29 de março de 2004

Ao passar por ela, ele rodeia-a com o olhar. Mascara ou sentimento? A pele de galinha na nuca desce como um raio fulminante, repentinamente, por todo o corpo estende-se como uma onda denominada prazer. Sentir o cheiro e cheirar o sentimento. A voracidade do pensamento mágico dilui-se pela eternidade o seu combustível chama-se extremo, ermo entre dor e prazer. O que os distingue pensa o homem ao deixar deslizar os dedos pelos caracóis da mulher que se esconde dele pois se vê reflectida. Caminhos que se cruzam, olhares por desvendar. Serão reais ou fragmentos da imaginação? Sabores que anseiam se misturar em ondas tão adamastoras de libidos fervilhantes que a saudade do que ficou esquecido fragmenta-se em mil e um pedaços e em vez de histórias, soltam-se gemidos que comportam a essência de dois corpos abraçados. Por entre a carne o suor desliza como gotas de chuva em forma de doce canção, sobre o corpo que grita perante o êxtase que se advinha. Onde está a razão? Não a será, sem paixão…

26 de março de 2004

Lúcifer sobre o luar
Do meu olhar
Alma que se esconde
Amor que não se rende
Sentimento inconsequente
Sapiente indolente
Voraz, sagaz, perspicaz…
Estômago sem reduto
Acéfala do meu mundo
Medusa sem conteúdo
É sabedoria sem medida
E a mente humana jamais
Será vencida
O ontem é sempre ontem
E o agora é automaticamente ontem
O fado será futuro
E o rumo é traçado
Pela traça que rói
A teia que a vida molda
Paixão que não se sacia
Pelo o que a mente dita
Essa grita, imita o prazer
Do orgasmo do querer
Satisfazer o desejo
Que não se deixa morrer
Eterna é a aflição
Que fica por desaçaimar
Na mente para sempre
Perdurará o desejo por realizar
A fome por matar
Hoje durmo envolta
Do teu pensamento
Sobre ele gemo
Grito sobre a incógnita da tua face
Em pensamento deixo-me cavalgar
Sobre a incerteza do teu falo
Enrosco-me depois sobre a chama
Do meu por do sol que repousa
Ao som do teu respirar
Estrela da manhã
Beija-me ao acordar
Eleva-me ao teu olhar
Desfila ao meu lado
Pois eu sou aquela
Que se esconde na a bruma da incerteza
Que pretende alcançar o seu oposto e complementar
E assim alcançar a ternura e subversão da ilusão.

14 de março de 2004

Pingos de amor em lustre azur
Sinfonia breve do sentir
Incompleta identidade
Anteros e eros caminham lado a lado
Em paralelo psique chora
Sobre a solidão da eternidade
E em beijo fugidio
Atiça eros que a envolve de tudo o que é belo.

10 de março de 2004

Pensamento perdido, imediato, breve, intenso, um segredo inconsciente…

Tenho um fogo entre as pernas que me deixa inquieta. Baloiço devagar sentada de pernas abertas, a saia, as cuecas e a forra da cadeira ficam inundadas de saliva que liberto pela vagina. É uma flor madura o que por entre as ancas perdura. Ela quer ser beijada com ternura e amada com distinção. Perfurada pela masculinidade dura e rija de alguém que a deixe saciada e não acarrete ilusão. Tem de ser concreto o seu desejo. Que ele apenas por mim possa ser satisfeito. Agora toco-me ao de leve na tentativa de apagar o fogo que me deixa sobre alerta. Liberto suaves gemidos para compensar o sentimento que neste momento me pesa. Estou a arder e não conheço o que me pode fazer arrefecer... o fogo eterno da criação que arde e exibe o desejo pela união.

6 de março de 2004

Soberba seda, soluços sôfregos, macio, engelhado dossel. Esvazia-te concubino. Pulveriza-me o tufo em vórtice místico. Tolda-me a tez dos lábios rubros, os seios e as entranhas e deixa a alma diluir-se em espasmos lustros de ardor espectral.