31 de maio de 2004

28 de maio de 2004

27 de maio de 2004

"Memórias De Afrodite"

Como posso eu descrever o que se passou ontem à noite? São demasiados sentimentos, senti em demasia, tinha um sabor doce e genial. Mais se assemelhava a um quadro tanto surrealista como futurista. Senti-me aconchegada, amada, por ter deitado os medos e receios por terra, deixando o mar das emoções penetra-me da alma até ao corpo. Senti similaridade e complementaridade. Como disse um quadro, de uma realidade, talvez realidade do prazer. Tenho as imagens de ontem gravadas na mente alma e corpo. Elas saltam à visão tão inesperadamente e com todo o pormenor, que me fazem gentilmente arrepiar. É isso que vou contar, relatar. Não será propriamente a sequência temporal, mas vou fazer a tentativa de descrever fragmentos e de traduzir puros sentimentos.
Encontramo-nos na sala, ele vira-se e diz-me: lê os teus contos eróticos. Fala comigo com a maior das calmas: finge que não estou aqui. Quero ver exactamente como és quando estás sozinha. Respondo-lhe: sou muito reservada.
Faz de conta que sou um fantasma. Faz o que quiseres. Lê os teus contos em voz alta como se os estivesses a rever. Quero mesmo ver como és quando estás sozinha.
- Isso vai ser muito difícil. Porque por mais que eu finja que não estás… eu sei que estás… e não vou conseguir ignorar a tua presença.
Fico envergonhada, não sei o que fazer. Tenho vontade e ao mesmo tempo medo. Fico curiosa com o seu pedido. É algo de tão íntimo. Assim que começo a soltar as palavras que vou lendo, solto risos, como se fosse uma menina acanhada. Assim que faço uma retrospectiva sinto o sangue a percorrer-me a alta velocidade.
Pede-me para lhe contar, as historias ao ouvido, talvez assim fosse mais fácil.
Mas eu continuava na mesma envergonhada, e acho que isso o estava a deixar excitado. Lá arranjo coragem e começo-lhe a sussurrar algumas coisas ao ouvido. Tento manter uma determinada voz. Ele está a gostar e eu também. Sinto a energia dele a envolver-me sublimemente. Lentamente vou deixando que ele tome conta de mim. À medida que lhe vou sussurrando frases eróticas ao ouvido. Sinto os meus lábios a inchar suavemente. Sinto aquele calor envolvente que se projecta dele na minha direcção. Quando acabo de lhe contar, afasto-me e dou-lhe uma lambidela no lóbulo da orelha. Ele volta-me a pedir para lhe mostrar mais qualquer coisa. Desato-me a rir, pergunto-lhe se ele tem noção do que me está a pedir. Ele insiste. Senta-se no sofá que fica em frente à aparelhagem. De repente viro-me e digo-lhe: Vou mostrar-te o que faço ás vezes quando estou sozinha. Eu estou sempre a ouvir musica e eu adoro esta musica, tenho alturas que fico completamente hipnotizada só de ouvir e faço isto… dirijo-me à aparelhagem, ponho as mãos em cima da prateleira que a comporta, fico com os braços estendidos, as mãos ficam ao nível da minha cabeça. Ponho a musica para trás e finjo que ele não está ali. Deixo-me estar. A única coisa que me vem a mente nesse momento é ele a levantar-se da cadeira e agarrar-me por trás. Mas isso não aconteceu, no entanto fico com essa imagem gravada, queria que ele me tocasse e me beijasse. Ele nada! A música acaba, volto a sentar-me na cadeira junto à mesa. Ele olha para mim, e diz-me: - Sabes quando estavas ali, só me deu vontade de me levantar e agarrar-te.
Fico surpreendida! Estávamos a pensar exactamente a mesma coisa… passado um bocado, não sei bem com que propósito. Digo-lhe que são quatro da manhã. Pergunto-lhe se não quer descansar um pouco, antes de se ir embora. Porque me parece que ele está com sono. Vou abrir o sofá, para descansares um bocado, eu ponho o despertador, para que horas?
Respondeu-me, que sim que estava tudo bem por ele. E de seguida pergunta-me: - O que vais fazer?
- Eu vou-me deitar também, mas na minha cama. Ele fica com um ar sério e quase de imediato diz-me: - Posso deitar-me ao teu lado?
Fico surpreendida, e digo-lhe que sim só com uma condição, dormimos vestidos.
Descalçamo-nos e deitamo-nos os dois na cama, tapamo-nos com o edredon, mal nos acabamos de tapar. Ele agarra-me, mas agarra-me com ternura, envolve-me e enrosca-se em mim. Senti-me segura e excitada. Fico confusa! Acho que ele a seguir beija-me e salta-me para cima. Peço-lhe para tirar a camisola, queria sentir a pele dele contra a minha. Beijamo-nos, fico cheia de calor, quero que ele me toque o corpo todo. De seguida ele levanta-se e deita-se em cima de mim. Faz pressão com a cintura encostada à minha, estamos ainda ambos vestidos ou parcialmente vestidos. Sinto-o rijo contra mim, esfrega-se para mostrar que estava excitado. A partir daqui recordo-me de situações, pormenores. Não por esquecimento, sim porquê não os consigo descrever, foram como que sentimentos, eles enlearam nos, um no outro. Lembro-me de lhe pedir para me despir à medida que lhe passava as mãos pelas costas. Recordo-me de lhe dizer para se despir também. Queria sentir o corpo dele contra o meu. Queria misturar-me e tornar-me complementar. Já nus, ele mexe-me na vagina. Dá-me palmadinhas suaves e deliciosas, faz com que todo o meu corpo estremeça de prazer. Espalhavam-se ondas de prazer pelo corpo todo, deixando-me ansiosa pelo seu toque, pelo seu beijo… a cada momento ficava mais sequiosa de ser penetrada, de ser possuída. Ele passa-me as mãos por todo o corpo. Peço-lhe para me passar as mãos pelas costas, viro-me e ele faz-me massagens. Fico ainda mais excitada, melhor dizendo e resumindo. Todas aquelas cinco horas que tivemos juntos deitados na cama, foram de excitação incomparável. Ele manteve-se a tocar-me, beijar-me… lembro-me… beija-me os seios e aperta-os. Mexe-me na vagina, enfia os dedos, lambe-a também. Deixei-me perder no mar dos lençóis que se transformavam em ondas de prazer embriagante. Sinto a língua dele a percorrer-me toda a vagina. Sinto a ponta da língua dele rija a fazer pressão tanto no buraco da minha vagina como no meu rabinho.
Sinto a pontinha da língua dele a entrar e a sair do meu rabinho. Fico e estou toda molhada. Põem-me um dedo na vagina e outro no rabinho. Eu mexo-me e contorço-me. A uma dada altura, eu estou deitada de pernas abertas enquanto ele me lambe, dá-me uma vontade louca de olhar para ele queria ver o que ele estava a fazer. Assim fiz, apoie-me nos cotovelos e levantei ligeiramente a cabeça, olho para ele a afastar os lábios da vagina e a dirigir lá a cabeça, volto a deitar-me na cama. Fico a pensar como será ver de frente o que ele está a fazer. Quero mexer também, quero tocar, beija-lo no pescoço e assim que o faço ele geme. Sei que lhe dá imenso prazer um beijo ou uma lambidela no pescoço. A seguir desço até ao pénis e começo a lambe-lo, sinto o calor que ele liberta por entre os meus lábios, sinto a rigidez dele que quero acariciar. Ele deita-se de barriga para cima e eu escorrego, fico de joelhos com a cabeça em cima da cintura dele, espeto o rabo para cima e ele diz-me que gosta de me ver assim. Lambo-lhe as bolas o pénis apenas o sugo. Gosto do sabor dele. Dá-me pica saber que ele também está extremamente excitado. A cada minuto que passa fico cada vez mais excitada. Digo-lhe – só me apetece sentar em cima de ti e enfia-lo todo em mim. Ele diz-me que não. Ainda fico mais sequiosa. Agarro-lhe e esfrego-lhe a cabecinha no buraco quente e húmido da minha vagina. Digo-lhe só para deixar um bocadinho mais. Fico a imaginar como seria a sensação. Será que me aleijaria, julgo que não. Estou maluca só me apetece sentar em cima de ti. Digo-lhe também – assim mesmo como estás, encostado à parede e agora eu levantava-me, sentava-me e encaixava-me em ti. Deixa-me, murmuro eu. Ele repete que não. Agora estou deitada de barriga para baixo e peço-lhe para me dar palmadinhas no rabo com força. Como se me estivesse a castigar de eu não ter deixado ele ir-me ao rabinho. Digo-lhe também para me enfiar um dedo no rabinho e ao mesmo tempo dar-me palmadinhas e ele assim fez. Primeiro só a pontinha do dedo e depois deixa-o escorregar, não sei se foi ou não de propósito, só sei que o senti como que a rasgar-me porque estava húmida e não estava. A seguir peço-lhe para ele se masturbar. Quero vê-lo a mexer-se, deixa-me excitada. Quero desesperadamente apagar o fogo que me está a deixar completamente louca. Esfrego mais um pouco o pénis dele, na minha vagina e digo-lhe: que lamento não podermos fazer, porque eu estou a arder. Imagina lá como é estar dentro de mim. Eu estou a imaginar como seria estares dentro de mim. Olho para ele a masturbar-se é algo que realmente gosto de ver um homem deitado ao meu lado a tocar-se, sem medo de se mostrar. É belo! Vejo a mão dele a mexer para cima e para baixo a explorar-se a ele próprio. De seguida pede-me para fazer o mesmo. Queres mesmo ver como eu faço, não é? É um segredo que eu tenho, se calhar não vais achar piada. Faz para eu ver, diz-me ele novamente, enquanto enfia os dedos na minha vagina que ainda não parou de deitar liquido, está extremamente molhada. E ele começa a mexer-me nas mamas. Fico parada apenas a sentir, tanto o sentimento que ele deixava transparecer como aquele que me deixava cheia de prazer. Agora ele volta-me a tocar na vagina e acabamos por adormecer anestesiados de prazer.

23 de maio de 2004


Svetlana Dorosheva, Cocaine Women

22 de maio de 2004

Os meus olhos ficam diferentes quando bebo absinto...
Sou o espelho que te faz ver, o teu verdadeiro reflexo. Não sou igual, apenas absorvo a tua verdadeira imagem e retribuo-te. Embora a representação apareça invertida perante o espelho. Aqui a inversão é o sexo. Tu sendo masculino eu sendo feminino, mas de essências e expectativas, estranhamente idênticas. É a imagem invertida que nos dá a vislumbrar a nossa mútua identidade no meio do todo que se interliga.
Porque tu és como eu, absorves as energias que te rodeiam. Então quando estamos a sós, só nós os dois, conseguimos ver o que somos. Deixamo-nos envolver um pelo o outro. Como se fossemos unos, um em dois corpos, que necessitam de sentir o que são. Onde a partilha dá origem à criação e unificação da curiosidade pelo que faz o ser, o sentir, e aprendemos a dirige a mais pura criatividade e aos poucos construímos mundos tanto imaginários como reais de doces satisfações inebriantes, ofegantes sons incompletos que o prazer faz transparecer através do agradável som de um gemido.

21 de maio de 2004


19 de maio de 2004

“ Por entre sedas chinesas”

Por entre sedas chinesas, corpos nus roçam-se. Avivam memórias desde o seu princípio. Almas que se unem… Corpos que se diluem ao sabor magnético dos uivos embebidos em pura luxúria. Sobre a parede do lado esquerdo da cama rastejante, aparecem imagens pitorescas, reflectem os vultos sagazes e vorazes dos dois amantes. São ágeis, apressados, quentes como a bainha da mulher e o falo do homem. Ambos se metamorfosearam, a mulher em uma flor rubra, viscosa de doce sabor, o homem é o orvalho matinal que por entre as pétalas desliza ao sabor dos movimentos contorcidos da flor ao vento da volúpia. Por entre sedas chinesas, os murmúrios desbotam, a sua vibração enleai-se e os amantes tornam-se num só, a passo compassado criam complementaridade, fazem a seda azul escura como o céu iluminado pelo luar brilhar. Ondas de deleite são expiradas e inspiradas pelos amantes. Os vultos na parede, a passo compassado mas agitado, mostram como eles se diluem, partilham sucos vestais, gemem cânticos descompassados, beliscam-se por iras passadas, aninham-se na tentativa de se dominarem. Num movimento brusco o homem segura rispidamente a mulher pelos pulsos. Como que por magia pega numa ponta de seda e atira-a pelo o ar, ficam ambos nus estáticos a olhar um para o outro. Do nada surge uma fita de seda negra como o vácuo. Os olhos dele brilham ao se chegar há frente para atar os pulsos da mulher. Ele olha-a nos olhos, e subitamente por entre as frestas da sua íris, ela lê-lhe a alma. Vê o que se esconde por entre os filamentos verdes jade dos seus olhos. Vê o desejo acumulado que ele possui por ela, e deixa-se dominar como se fosse um animal selvagem que sabe que não tem para onde fugir mas nunca cessa a sua luta. Ele veemente ata-a com força, como se quisesse deixar marcada a necessidade de a possuir, de a ter como pertença única. Agora puxa-a pelas mãos. De barriga para baixo ela escorrega sobre a seda, os mamilos roçam e enriçam-se à medida que ela se dá por vencida. Já no ermo da cama, ele endireita-a e senta-a no rebordo mesmo entre o colchão e o chão. Larga-a e diz-lhe para se levantar e que tente fugir. Ela foge até ao fundo do quarto em vão... Ele levanta-se e persegue-a, agarra-lhe o braço dizendo-lhe que se sente na cadeira e eleve os braços na direcção da cabeça e parede. Nisso prende uma nesga da fita que lhe sustinha os pulsos conectados. Nua, desamparada ela permanece imóvel, enquanto os olhos dele brilham, o verde dos olhos floresce ao passar rente por entre a face e os cabelos da mulher. Rouba-lhe a imagem dele ao vendá-la e toldar os seus doces olhos cor de mel com um lenço de seda. Depois de o apertar por detrás da cabeça, ele endireita-o de modo a que a única borboleta estampada no lenço ficasse mesmo no centro da fronte. Seguidamente baixa-se, põem-se de joelhos, agarra-lhe suavemente os tornozelos, a pele desliza, ele imite um suave mas contido gemido, e num repente de devaneio iça-lhe as pernas pondo-lhe a dobra dos joelhos sobre os braços da cadeira. Ela fica escancarada como uma flor que desbota sob a orbe orgânica do desejo, sob a visão atenciosa emitida de forma estrondosa, ele conseguiu domá-la, pensa ele enquanto se levanta do chão. Dirige-se à cama, senta-se e observa-a por ligeiros momentos. Ao longe sente a concupiscência a tomar conta do corpo, com ela também o mar do devaneio se expande dentro da sua vontade. Finalmente sente que tem uma boneca à sua disposição. Pensa – Posso fazer o que quiser. Sei exactamente o que pretendo. Mas neste impecável instante sentiu um abalo, não de consciência, mas de um sentimento estranho como que uma recordação adormecida. Não fazendo esperar a donzela, ligeiramente embriagado pela euforia, dirige-se repentinamente, ajoelha-se perante os frutos do amor carnal. Passa-lhe a mão pela vagina como quem passa as mãos a dedilhar pelas cordas de uma guitarra. Observa então minuciosamente tanto a flor como o botão, senta-se no chão tudo nu, fica embevecido a examiná-la. Está imóvel. Não se mexe, parece uma boneca. Ele quer brincar com ela, pensa para com ele. A sua mente vibra, o som ecoa, o som do desejo, som imperceptível que o faz querer, que o faz render. Afasta-se um pouco mais, senta-se para a ver por inteiro. Ela mexe a cabeça de um lado para o outro, não consegue ver, está vendada! Proibida de lhe tocar, de olhar nos seus olhos e ver que pertencem um ao outro. Um elo de energia une-os, são o mesmo. Pensa ele sem no fundo querer crer. O amor é rendição. É ele que me prende e me deixa ficar enleado na vida. Pensa o homem obstinadamente com as mãos sobre os olhos e cabeça. Não sabia o que fazer. Ela, para si mesma murmura suavemente: olhos de jade, belos e frios. Serão gelo? Eu sei que após o gelo cintilante se encontra o paraíso e inferno que trazes escondido. Quem te fez gelar? Quem te fez ou o que te fez crer que o amor é uma fraqueza? Eu sei que me desejas. Mas não me podes fazer tua… pois já sou minha. Ele de seguida retira as mãos da racionalização da frente do gelo glaciar verde jade, devido à profundidade do mar das emoções que fervilham no seu interior, de gatas caminha como um felino, dirige-se há presa imóvel, cheira-a, lambe-a, suga-lhe o liquido morno que se liberta da flor, na tentativa desesperada de se tornar nela e ela nele.

13 de maio de 2004

EHEHEHEH

Auguste Rodin

11 de maio de 2004

Brincos de princesa
Em tapete persa
Corpos tépidos
Sobre o chão gelado
Em beijos angélicos
Contraem-se, transformam-se
Em chão e terra
Mármore rubro
Sobre a bolha da cópula
O solo tal como o colo
Aquecem em fogueira eterna
Sobre o orgasmo efémero
Os brincos de princesa
Rebentam ao som
Compassado do êxtase inventado.

9 de maio de 2004

Uma lágrima desce-me pela bainha. Lambe-a por favor.Suga-a com fervor, com paixão pelo momento, para que eu grite, para que eu expie este sentimento que me pesa, que me incute desejo inquieto. Anseio o que nenhum homem jamais conseguirá compensar, nem mesmo Eros o fará.
Tu conseguiste aproximar-te do limiar da minha contemplação... Queres atingir a divindade? Não podes, não partilhas os teus sucos com a sua predisposição. Lambe-me! Pois o meu suor é o orvalho da criação.
Faz-me viajar pelo mundo da perdição, e em troca eu levantarei o véu do meu coração, e apenas a ti darei a chave eterna que abre a caixa das absolvições efémeras.
Sou como a lua nem sempre visível, mas sempre presente, Senhor do desejo, sei que me queres, sei que te moves apenas por que anseias. Não sei quem és, não conheço a tua face. Apenas quero sentir as tuas mãos a invadirem-me, a tocarem-me, a elevarem-me para que me recoste sobre o teu adorado e espinhoso colo sagrado, que comporta a essência que em mim é de escabrosidade.

7 de maio de 2004

CÂNTICO

"Num impudor de estátua ou de vencida,
coxas abertas, sem defesa... nua
ante a minha vigília, a noite, e a lua,
ela, agora, descansa, adormecida.

Dos seus mamilos roxo-azuis, em ferida,
meu olhar desce aonde o sexo estua.
Choro... e porquê? Meu sonho, irreal, flutua
sobre funduras e confins da vida.

Minhas lágrimas caem-lhe nos peitos...
enquanto o luar a nimba, inerte, gasta
da ternura feroz do meu amplexo.

Cantam-me as veias poemas nunca feitos...
e eu pouso a boca, religiosa e casta,
sobre a flor esmagada do seu sexo."

José Régio, Biografia
COMO EU NÃO POSSUO

" Como eu desejo a que ali vai na rua,
tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emaranhá-la nua,
bebê-la em espasmos de harmonia e cor!...

Desejo errado... Se eu a tivera um dia,
toda sem véus, a carne estilizada
sob o meu corpo arfando transbordada,
nem mesmo assim - ó ansia! - eu a teria...

Eu vibraria só agonizante
sobre o seu corpo de êxtases dourados,
se fosse aqueles seios transtornados,
se fosse aquele sexo aglutinante...

De embate ao meu amor todo me ruo,
e vejo-me em destroço até vencendo:
é que eu teria só, sentindo e sendo
aquilo que estrebucho e não possuo."

Mário De Sá-Carneiro, Dispersão