29 de fevereiro de 2004

“ Sinto-me em casa…”

Era domingo, mal acabo de chegar a casa, o céu da tarde cerrara-se repentinamente como se as nuvens tivessem capturado o espírito das vagas ardentes que emergem ao som do vento em dias de tempestade. Ouvia-se o barulho da chuva, que caía vertiginosamente, sobre a laje da varanda. De encontro à janela estava uma mulher: a sua sombra e figura apenas me foram reveladas pelas impertinentes descargas etéreas provindas da natureza. Nuvens colidiam nos céus, umas com as outras a velocidades estonteantes e o horizonte ateava-se como que estivesse a arder em tom de chama electrizante, prateada, clareando o breu da tempestade, que ia ao encontro da madrugada, para não deixar o sol raiar sobre o dia que se adivinhava. Ao aproximar-me, em momentos repentinos as luzes dos relâmpagos iluminavam a obscuridade da visão, e a sombra e figura foram-me anunciadas. Perguntei-lhe o que estava a fazer de encontro à janela? Responde-me que estava a ver o que não consiga apreender e ri.
Ela está do outro lado do cortinado, e eu do outro com o nariz encostado. Os relâmpagos continuam a florear os céus e a clarear a sua imagem, encosto-me cada vez mais ao cortinado, sinto-a, vejo-a, respiro-a! Está encostada de lado meia arqueada com a testa encostada ao vidro meio embaciado. Afasto-me num momento de calmaria e escuridão, mal paro de me mover soa mais um estrondoso corisco, embate no meio da curvatura da serra e inunda a sala pela moldura chamada janela. Ai o perfil da mulher encostada ao vidro projecta-se sobre o cortinado meio transparente, em linhas fortes e delicadas, primeiro é me revelada a face, depois os seios arrebitados do frio, de seguida as ancas e parte da curvatura das nádegas. Ouve-se um doce e rubro murmurar em compasso com a escuridão que diz: E agora, o que fazes?
Dirijo-me à extremidade do cortinado, com a mão direita seguro-o com ímpeto, e deixo o meu corpo escorregar contra o dela que fica de encontro à janela, digo-lhe ao ouvido sorrateiramente: Hum, o que faço?! Agora é o momento em que eu puxo o cortinado viro-te para mim e digo-te ao ouvido, o quanto gosto de ti, beijo-te para não poderes responder, porque quero diluir-me e desvendar-te como se fosses um segredo… deixar-te inebriada de desejo… Que a tempestade dure para eu me enlaçar contigo ao ritmo dos relâmpagos e da chuva torrencial… aleitar o doce prazer do inesperado a cada segundo que passar. E dobro o cotovelo do braço direito e as argolas que sustêm o cortinado deslizam pelo varão, beijo-a no meio das costas, faço os meus lábios deslizar pelo declive até ao pé do pescoço e com as mãos mornas viro-a para mim, continuo a deslizar os tentáculos pela sua pele arrepiada do frio e da fervura da libido que quer ser satisfeita com todos os requintes. Junto ao seu ouvido digo-lhe: "Agora fumava-te, embrulhava-te em papel, e chupava-te até te sumires em mim". Pelo timbre da voz o corpo dela desfalece embebido em entrega contra o meu, beija-me a face e empurra-me para o sofá, no fundo da sala vazia faz-me sentar e de seguida toda nua senta-se por cima, ficamos virados de frente um para o outro quando ela prenuncia ternamente ao meu ouvido: Abraça-me estou com frio. Não me podes fumar, mas podes amar-me, isso sim será a única coisa que me fará sumir em ti. Eu sorri ao de leve, enquanto ela se afasta endireitando-se, olha-me nos olhos compenetrada, parecia que queria desvendar a alma através do olhar. Em tom de brincadeira, movo as minhas ancas para cima, elevo-a comigo, deixando-a contorcer-se, ondula vagarosamente que nem uma serpente encantada, parecia que cada milímetro do corpo dançava obliquamente em torno dos véus da energia da minha Muladhara e essa oscila como que estivesse a acordar lentamente, de seguida as ondas entram despercebidamente para Svadhishthara, impetuosamente entram em fusão com Manipura, gentilmente abraça-me Hanahata, no momento dessa união o terno e exótico gemido compassado faz mais uma ligação com Vishuddha, depressa a acção da nossa diluição transforma-se em visão sobre a Anja. Vejo-a sobre a clareira do amanhecer a rodopiar danças primitivas, só para mim, eu pairo no céu envolvendo-a em toda a sua extensão e num flash de luz volto a mim e luz faz-se sobre Sahasrara, uma luz tão intensa, que me faz acordar e nesse instante memorável voltei a sentir, senti-me entrelaçado, conjugado como o verbo que deixou de estar isolado.

26 de fevereiro de 2004

Olhos viajam
Erguem colunas eróticas
Que me deixam tonta e aquosa
Lambe-me, deixa-me ser apenas tua
Ergue-me, e nua e crua
Consome-me, faz-me gemer
Não de dor, mas sim de prazer
Homem altivo o que escondes
Nesse olhar temível
Amor pelo amor
Ou medo do rancor
És amargo e delicado
Picas como um ferrão
Tens uma espada em brasa
E eu a fornalha que a derrete
No momento em que a enterraras
Ela arrefece…

24 de fevereiro de 2004

Sexo, sexologia, pervertida, enegrecida
Pelas vozes do relento dos tempos
Que negam instantes únicos
Pela voz não do coração
Mas sim da razão
Sexo Compatível
Sexo Incompatível
Sexo Desmedido
Sexo Excessivo
Sexo Colossal
Sentidos anómalos
Excepcional sexo
Puro, simples, concreto real
Sem amargar a boca penal, sazonal
De corpos desiguais
Sexo...

19 de fevereiro de 2004

Devaneio

Comer e foder, foder e comer.

As semelhanças entre comer e foder:


Comer: alimentar, nutrir, lanchar, merendar, jantar, cear, manjar, mastigar engolir, dissipar, lograr, gastar, consumir, bla, bla…

Foder todos nós sabemos o que é, mas porque é que eles se misturam por analogia?

Comer e foder são duas coisas que incitam imenso prazer à humanidade em geral, senão o são algo de errado se passa, com esses congéneres da espécie. Afinal porquê lirismos, ao que me parece são as únicas coisas que realmente nos transportaram até aos dias de hoje. Deveríamos eleger um deus que rege-se esse principio básico que nos garante a sobrevivência da espécie. Aqui a teoria é, se absorvemos a ideia fundamental do comer e foder, tudo o resto são etc, desde que exista também o dormir. Embora as vezes o comer e foder não sejam compatíveis temos por exemplo: a paragem de digestão. Talvez seja por isso que alguns dos nossos congéneres tenham preferido associá-los apenas no sentido literal comer e foder e não realmente foder e comer. E utilizam eu quero-o comer-te em vez de foder, sim literalmente parece canibalismo, mas não se trata realmente disso. Trata-se de uma bela afinidade entre dois aspectos do ser humano que lhes é fundamental. Comer implica pormos alimento no corpo pela boca… bem embora no sexo também se ponham coisas na boca e com toda a certeza elas tanto ao homem como mulher… tem a sua própria “digestão”. Hum que relevância tem esse nutriente em nós? Não interessa! E o acto de mastigar? Será símbolo do truca e truca, os dentes encaixam uns nos outros, o homem e a mulher também se encaixam, o homem com o homem também, a mulher com mulher, bem, terão de usar “comida” de plástico se assim o entenderem, ou comer à mão. Mastigar faz libertar saliva, tal como o truca e truca. Mas a saliva será um expoente máximo e um orgasmo? Hum julgo que não pelo menos não é tão intenso, embora quando comemos e vemos algo que gostamos é bom salivar quer dizer que nos agrada. Então onde está a ponte de ligação entre o orgasmo e o comer? Será o paladar que fica na boca ou a própria digestão. O fluxo de sangue transporta os nutrientes que são os alimentos fragmentados, ai a pulsação eleva-se e o sangue transporta os nutrientes para as células. No orgasmo o homem também liberta os seus nutrientes neste caso acumulados em duas bolsas e esses nutrientes percorrem a vagina, útero, etc, da mulher na esperança de alimentar o óvulo….
"(...) Ainda um pouco céptico, quis certificar-se e começou a cheirá-la de cima a baixo. E na realidade não havia um único pedacinho do corpo dela que não emitisse uma frangrância subtil.
Que descoberta maravilhosa! Isto era um charme feminino muito especial de que ele nunca até agora ouvira falar. Arrebatado pelo prazer, abraçou-a e apertou-a, acariciando-a tanto com beijos como com nomes afectuosos. Ela começou a rir e interrompeu as carícias dele com uma pergunta maliciosa:
-Já terminaste de me cheirar? Tens a certeza de que não te faltou nada?
-Que eu saiba nao. Ou deveria...
Nuvem perfumada deu uma risadinha e enterrou a cara na almofada.
-Exprimenta.
Ele virou-a de costas e passou a boca e o nariz pelos montes gémeos.
Eureka! - gritou triunfantemente das perfundezas. Subindo para as regiões superiores, beijou-a
-Delicioso, perfeitamente delicioso.
Passado um bocado escorregou outra vez para o submundo, curvando o corpo num arco.
Abriu os portões da casa de prazer dela e introduziu a língua nas salas interiores como vice-embaixador.
-Oh! O que estás a fazer...? Pára! Estás a matar-me!... - gritou ela, estremecendo de riso, e tentando em vão afastá-lo. Mas quanto mais empurrava, mais obstinadamente o zeloso e vice-embaixador trabalhava na sua missão diplomática, a qual levou a cabo tão habilmente que os resultados foram quase iguais aos atingidos pelo experiente e acreditado diplomata.
Por fim, a sua missão foi cumprida e ele foi atenciosamente dispensado. Depois de uma pausa de exaustão silenciosa, ela passou-lhe a mão pelos cabelos. (...)"

Li Yu, " O Tapete Carnal de Orações", Grandes Clássicos Eróticos Europa-América

18 de fevereiro de 2004

Chuva vertiginosa,
Beijo que deixa o coração caiado
De tons de rubi inflamado
É Dezembro o frio sente-se
Sai fumo pelas nossas bocas
Que se encontram e acalentam
O que o frio ríspido dita
A alma alivia-se pelo o toque…
Em murmúrio inesperado
A carne fica morna
E seiva entorna-se sobre o peito
E o gemido solidifica sobre a noite
Embacia e molda o nosso corpo em um, oito
E sobre o momento do coito,
A devassidão cria o que adia
O instante que cria.

14 de fevereiro de 2004

“ Por entre sedas chinesas”

Por entre sedas chinesas, corpos nus roçam-se. Avivam memórias desde o seu princípio. Almas que se unem… Corpos que se diluem ao sabor magnético dos uivos embebidos em pura luxúria. Sobre a parede do lado esquerdo da cama rastejante, aparecem imagens pitorescas, reflectem os vultos sagazes e vorazes dos dois amantes. São ágeis, apressados, quentes como a bainha da mulher e o falo do homem. Ambos se metamorfosearam, a mulher em uma flor rubra, viscosa de doce sabor, o homem é o orvalho matinal que por entre as pétalas desliza ao sabor dos movimentos contorcidos da flor ao vento da volúpia. Por entre sedas chinesas, os murmúrios desbotam, a sua vibração enleai-se e os amantes tornam-se num só, a passo compassado criam complementaridade, fazem a seda azul escura como o céu iluminado pelo luar brilhar. Ondas de deleite são expiradas e inspiradas pelos amantes. Os vultos na parede, a passo compassado mas agitado, mostram como eles se diluem, partilham sucos vestais, gemem cânticos descompassados, beliscam-se por iras passadas, aninham-se na tentativa de se dominarem. Num movimento brusco o homem segura rispidamente a mulher pelos pulsos. Como que por magia pega numa ponta de seda e atira-a pelo o ar, ficam ambos nus estáticos a olhar um para o outro. Do nada surge uma fita de seda negra como o vácuo. Os olhos dele brilham ao se chegar há frente para atar os pulsos da mulher. Ele olha-a nos olhos, e subitamente por entre as frestas da sua íris, ela lê-lhe a alma. Vê o que se esconde por entre os filamentos verdes jade dos seus olhos. Vê o desejo acumulado que ele possui por ela, e deixa-se dominar como se fosse um animal selvagem que sabe que não tem para onde fugir mas nunca cessa a sua luta. Ele veemente ata-a com força, como se quisesse deixar marcada a necessidade de a possuir, de a ter como pertença única. Agora puxa-a pelas mãos. De barriga para baixo ela escorrega sobre a seda, os mamilos roçam e enriçam-se à medida que ela se dá por vencida. Já no ermo da cama, ele endireita-a e senta-a no rebordo mesmo entre o colchão e o chão. Larga-a e diz-lhe para se levantar e que tente fugir. Ela foge até ao fundo do quarto em vão... Ele levanta-se e persegue-a, agarra-lhe o braço dizendo-lhe que se sente na cadeira e eleve os braços na direcção da cabeça e parede. Nisso prende uma nesga da fita que lhe sustinha os pulsos conectados. Nua, desamparada ela permanece imóvel, enquanto os olhos dele brilham, o verde dos olhos floresce ao passar rente por entre a face e os cabelos da mulher. Rouba-lhe a imagem dele ao vendá-la e toldar os seus doces olhos cor de mel com um lenço de seda. Depois de o apertar por detrás da cabeça, ele endireita-o de modo a que a única borboleta estampada no lenço ficasse mesmo no centro da fronte. Seguidamente baixa-se, põem-se de joelhos, agarra-lhe suavemente os tornozelos, a pele desliza, ele imite um suave mas contido gemido, e num repente de devaneio iça-lhe as pernas pondo-lhe a dobra dos joelhos sobre os braços da cadeira. Ela fica escancarada como uma flor que desbota sob a orbe orgânica do desejo, sob a visão atenciosa emitida de forma estrondosa, ele conseguiu domá-la, pensa ele enquanto se levanta do chão. Dirige-se à cama, senta-se e observa-a por ligeiros momentos. Ao longe sente a concupiscência a tomar conta do corpo, com ela também o mar do devaneio se expande dentro da sua vontade. Finalmente sente que tem uma boneca à sua disposição. Pensa – Posso fazer o que quiser. Sei exactamente o que pretendo. Mas neste impecável instante sentiu um abalo, não de consciência, mas de um sentimento estranho como que uma recordação adormecida. Não fazendo esperar a donzela, ligeiramente embriagado pela euforia, dirige-se repentinamente, ajoelha-se perante os frutos do amor carnal. Passa-lhe a mão pela vagina como quem passa as mãos a dedilhar pelas cordas de uma guitarra. Observa então minuciosamente tanto a flor como o botão, senta-se no chão tudo nu, fica embevecido a examiná-la. Está imóvel. Não se mexe, parece uma boneca. Ele quer brincar com ela, pensa para com ele. A sua mente vibra, o som ecoa, o som do desejo, som imperceptível que o faz querer, que o faz render. Afasta-se um pouco mais, senta-se para a ver por inteiro. Ela mexe a cabeça de um lado para o outro, não consegue ver, está vendada! Proibida de lhe tocar, de olhar nos seus olhos e ver que pertencem um ao outro. Um elo de energia une-os, são o mesmo. Pensa ele sem no fundo querer crer. O amor é rendição. É ele que me prende e me deixa ficar enleado na vida. Pensa o homem obstinadamente com as mãos sobre os olhos e cabeça. Não sabia o que fazer. Ela, para si mesma murmura suavemente: olhos de jade, belos e frios. Serão gelo? Eu sei que após o gelo cintilante se encontra o paraíso e inferno que trazes escondido. Quem te fez gelar? Quem te fez ou o que te fez crer que o amor é uma fraqueza? Eu sei que me desejas. Mas não me podes fazer tua… pois já sou minha. Ele de seguida retira as mãos da racionalização da frente do gelo glaciar verde jade, devido à profundidade do mar das emoções que fervilham no seu interior, de gatas caminha como um felino, dirige-se há presa imóvel, cheira-a, lambe-a, suga-lhe o liquido morno que se liberta da flor, na tentativa desesperada de se tornar nela e ela nele.
FIM
Estou de gatas em cima da cama a escrever um poema que transborde a luxúria e prazer. Será que me consegues ver? O vento sopra e contorna-me as nádegas, seca-me parte do líquido que por entre as virilhas corre. Ele brilha apenas para ti. Queres-me penetrar? Se conseguirem desvendar a minha alma, eu hei-de amar-te por toda a eternidade.

12 de fevereiro de 2004

Abençoado abismo, abóbada ditosa, aura avassaladora, fragmentos de sons indivisíveis, desaguam na cornucópia auditiva vindos da locução enigmática do cio da carnação. Sonância, gemido timbrado, sussurro que rasga a alma em tudo, e em fulgor de filigrana alado soa pelo infinito. Sobre a íris a grandeza da fornicação inicia. E os corpos cansados libertam todo o mal sobre a bruma casta fazendo luz incidir, essa percorre o corpo em ondas de volúpia furtiva que rasgam as entranhas e dirigem-se ao céu. E do capricho nasce a libidinosa metáfora mística, o queixume róseo do singular.
Num abismo acetinado, cinturas clamorosas, entram em claustro, a epiderme entra em epifania, sobre o espectro do esplendor que se avizinha…

A paixão da incerteza rege o padrão altivo do amar. Ou será somente medo frenético daquilo que ainda não se encontrou, e se continua a mostrar de fé ao pé do sopé do saber…

10 de fevereiro de 2004

Tisana sexual, gemidos embutidos em ecos lascivos, suores adormecidos, inofensivos escorregam pela ponta dos seios exaltados. Corpos envoltos em suspiros devido a carne ardente de desejo translúcido fulminantes espasmos tenebrosos, velozes, adamastores do ego, criadores de ardor. Ondas, vagem, folhas fálicas… pêndulo que oscila entre os lábios… seda contra seda… corpos deslizam até se fundirem em líquidos acetinados…

9 de fevereiro de 2004

O arquétipo do prazer deambula sobre o corpo de mulher em doces porções magicas. As cores sobre o seu olhar transformam-se em chamas ardentes, brancas imaculadas. Plumas em ondas sobre o corpo em leve toque inesperado, provocam gemidos alternados. Queixumes em nome de Eros, enlaçam-se com a criação e do caos nascem suspiros deleitosos envoltos de fantasias que se tornam realidade à medida que o corpo anseia por sua veracidade Sobre a cama da eternidade lençóis esvoaçam, dançam ao ritmo dos corpos vultuosos dos deuses. As pontas dos seios são os equinócios e na púbis ardente o mal torna-se indigente. O phallus ardente não tão quente como a bainha dilui-se em espasmos ascendentes. Murmúrios inconstantes espalham-se pelo o todo e os corpos agora dançam pela eternidade fora enlaçados em volúpia.

6 de fevereiro de 2004

Onirícos são os sonhos que deixam a alma endiabrada de suor pela madrugada, engalfinhados entre lençóis em espasmos desiguais emergem sons líricos de tom escarlates vindos do divino untar da carne contra carne, corpos desiguais, corpos complementares que eles saciem a libido de quem não conhece o idílico. Que o sabor do êxtase penetre até ao céu aveludado da memória do passado, presente e futuro e em sonho de tremula ilusão cantam anjos em efusão ao ritmo mágico que o pianista dá à marcha da alucinação.
A obscenidade que ordena a pluma subtil da perversidade. Pulveriza rostos suplicantes. Pelas coxas do cosmos a cópula começa, ondulando, tece o diadema colossal do orgasmo exuberante, carregado a suor de identificação. Por trás do olhar indeciso, está o olhar das escolhas. O roçar do coito, polarizado em teias de devaneio e iluminação. A vibração do êxtase dá-nos balanço, penetra, rompe, rasga e eleva-nos, em extermínio esmorece, deixando-nos em farpas sobre os flancos do local onde nos amordaçarmos, entrelaçamo-nos sobre a devassidão do medo do adeus.

4 de fevereiro de 2004

"Por muita importância que eu tenha vindo a dar à «cona», sempre me interessei mais pela pessoa a quem ela pertencia. Uma cona não tem existência separada e autónoma. Como tudo o resto. Tudo está ligado. Talvez a cona, por muito cheirosa que possa ser, seja um dos símbolos primeiros da ligação entre todas as coisas. Entrar na vida através da vagina é uma maneira tão boa como outra qualquer. Se penetrarmos suficientemente fundo, e ficarmos o tempo bastante, acabaremos por encontrar aquilo de que andamos à procura. Mas temos que penetrar com toda a alma - e deixar cá fora todos os acessórios. ( Por acessórios entendo: medos, preconceitos, superstições.)
Henry Miller, "O Mundo do Sexo e Outros Textos", Dom Quixote
Estou inundada de liturgias desenfreadas, sobre sexo em forma de louvor. Deslizo sobre o teu corpo, lambuzo-te o peito de liquido despeitoso, deixo a sua fonte escorregar até junto da tua boca e tu com os teus lábios beijas os meus e espetas a língua na alvorada que contem a continuidade da eterna fonte de prazer e dor mesurada.