29 de abril de 2004

The Great Masturbator, DALI



Estou sentada numa cadeira, desposada de roupa alguma. Há minha frente está um espelho de moldura oval. Olho-me nos olhos e resolvo dar-me a conhecer o melhor possível. Primeiro abro as pernas devagar, lentamente faço o braço escorregar. Passo a mão pelos suaves pêlos, isso faz-me arrepiar. Fico com as pontas dos seios eriçados de prazer. Passo novamente a mão pelos pêlos e aperto um dos bicos dos seios. Não preciso molhar os lábios da vagina, estão cheios de líquido, a cadeira fica húmida. Elevo as pernas, prendo as dobras dos joelhos nos seus braços. Lentamente abro o fruto do amor, parece uma flor cor-de-rosa cintilante. O líquido suave e viscoso agarra-se aos pêlos, fazendo uma teia de fios de um brilhante resplandecente. Agora sinto toda a zona das ancas, vagina e ventre a contraírem-se suavemente. Deixo escorregar o dedo indicador desde o orifício até ao clítoris, ai gemo. Faço o caminho de volta e enfio o dedo gentilmente e volto a gemer.


"Por muita importância que eu tenha vindo a dar à «cona», sempre me interessei mais pela pessoa a quem ela pertencia. Uma cona não tem existência separada e autónoma. Como tudo o resto. Tudo está ligado. Talvez a cona, por muito cheirosa que possa ser, seja um dos símbolos primeiros da ligação entre todas as coisas. Entrar na vida através da vagina é uma maneira tão boa como outra qualquer. Se penetrarmos suficientemente fundo, e ficarmos o tempo bastante, acabaremos por encontrar aquilo de que andamos à procura. Mas temos que penetrar com toda a alma - e deixar cá fora todos os acessórios. ( Por acessórios entendo: medos, preconceitos, superstições.)
Henry Miller, "O Mundo do Sexo e Outros Textos", Dom Quixote

23 de abril de 2004

A prostituta sagrada dança envolta de plumas plasmáticas de energias imensuráveis. Mil cores são projectadas sobre o breu das almas sedentas de paixão pela complementaridade. A seriedade da norma desvanece ao som dos ardentes gemidos que a carne produz ao se enlaçar. Gancho que se insere no travessão caloroso da bainha húmida, doce, quente e escorregadia. O corpo não aguenta mais a emoção do toque da carne envolta de beijos rubros de olhares translúcidos. Em carrossel tornamo-nos, cornucópias aladas de sabores afáveis. Lentamente tentamos penetrar a alma, ficamos na expectativa que ela se una.
Gemidos, cânticos divinos que aceleram a intensidade do momento. A doce dor isentasse de fundamento, e torna-se em murmúrio incandescente.
Abraçados até ao infinito rodopiam compenetrados pelo ritmo do orgasmo dionisíaco que lhes eleva o corpo à alma. O espírito desce sobre o corpo, e tudo se dilui em uma palete de cores em espiral infinita de deleito pelo usual.
Passam a ser um só e tudo se torna dual ao seu redor, e a prostituta sagrada desce à terra por uma escada de folhas fálicas vindas desde o início do nada, ela traz consigo o suspiro divino que enleia as almas em deleite, semeando o amor fantasiado por gemidos provindos da tentativa de capturar, aquele único momento em que tudo se torna inigualavelmente inesquecível.
Baloiçar sobre o corpo
Pois a alma dita com aforo.
A vontade colossal do pudor
Esse diminui na expectativa incerta
Do idílico que traz o sentimento luxurioso
Rouxinóis gritam pelo o ar murmúrios
Altivos de sentimento de alivio
No corpo a energia aglomera-se
E espera pelo momento do certo
Nasce um novo universo
Esse apenas perdura na mente inquieta
De quem não esquece a quietude que se segue ao orgasmo.

21 de abril de 2004

"Eros e Psique na Era moderna"

Alguém acendeu a luz do candeeiro que está ao canto da sala. Ouvem-se passos na direcção da cadeira onde me encontro sentada, é de veludo azul escura. Roço as pernas por ela, sinto a minha pele a deslizar, fico toda arrepiada. Quando de súbito, por detrás de mim, alguém faz deslizar as suas mãos pelos meus ombros, até que as pontas dos seus dedos me atingem os seios, deslizam por eles tal como as minhas pernas pelo veludo da cadeira, dominantemente possuídas de fervor. Tento virar a cabeça em vão, assim que me movo ele tira a mão do meu seio direito para me segurar a cabeça, para que ela permaneça estática, parada, serena. Com a outra mão aperta-me o outro seio, quer como que o arrancar, é o esquerdo, mais perto do coração, de seguida solta-o devagar mas com firmeza e aperta-me ambos os mamilos, e diz em voz trémula, na tentativa de esconder o ofegante som da respiração: Despe-te e senta-te na cadeira. Quero que a inundes de seiva, com esse precioso néctar que no teu ventre nasce, e na minha língua renascerá. Não podes olhar para mim! Não quero que me vejas! Ordeno e desejo, apenas que julgues a minha presença como fragmento do teu anseio. Fazendo com que me tornes na tua fantasia personificada. Serei o objecto da tua volúpia.
Não consigo resistir à voz hipnótica do homem que se encontra comigo, levanto-me prudentemente, desaperto o vestido de seda com receio. Esse parece que sofre de um mal chamado desejo, desliza pelo o meu corpo inteiro, e ao embater no chão de madeira, contorcesse como se fosse o último suspiro antes do coito. Mal tento olhar para o homem que está atrás de mim, ele diz: -Senta-te na cadeira!
Dou dois passos para trás, mal inclino ligeiramente o dorso para me poder sentar como ele pediu, sinto o vento que as mãos dele fazem na minha direcção, passa-me as mãos pelas costas, primeiramente não tem os dedos nem contra a pele nem muito longe dela. Sei ao que vieram antes de sequer me tocarem. Assim que me toca a pele nua das costas, sinto as suas pulsações ofegantes, tremiam não de medo mas sim de desejo e paixão. Agora sento-me à medida que ele desliza as mãos pelas minhas costas, toca-me nos ombros fazendo sobre eles, suaves festas devagar, com as mãos a tremelicar. Diz-me para me voltar a levantar e avançar em frente três passos. Não sei porque me deixo levar pelo timbre da voz dele. Obedeço. Agora sinto o vento que o homem provoca ao mudar de posição. Não me consigo dar conta para onde ele pretende se dirige, apenas sinto o vento meio frio, meio morno dos seus movimentos, sinto a determinação que o homem liberta a ser transportada pelo vento que se projecta sobre o meu corpo sendo o corpo a sua única barreira para o infinito. O vento passa-me pelas costas lentamente, devido ao impacto tanto me sobe de encontro aos braços e nuca como desce contornando-me as nádegas nuas e arrepiadas do murmurinho da excitação. E o homem quase a sussurrar pede-me para andar para trás. – Faz o caminho de ainda agora. Mas mais devagar. Dou três passos para trás com alguma cautela. Sei que as posições dentro do jogo mudaram, como o vento que mudou de direcção ao embater no meu corpo. No último passo que dou, sinto na dobra do joelho algo a roçar, acho que era o tecido das suas calças, não sei precisar, ia para dizer, e agora? Mas o homem, como sempre prevê o meu intento. E Pede para que eu recue e me encoste o mais possível à cadeira. Fala de tal maneira que fico a pensar que ele quer que faça de conta que ele não está sentado nela. Sinto novamente o vento que provem dos movimentos do homem. Ele agarra-me as nádegas, toca-lhes de forma delicada e deleitosa. Vagarosamente faz deslizar as mãos pelas minhas costas e barriga em direcção aos seios, os quais aperta suavemente. Eu fico a pensar, será que é o meu sentimento de disponibilidade perante o corpo que o excita? O que faço agora? Não vou fazer nada, vou permanecer imóvel à espera que ele explore todos os recantos da minha pele. Não vou provocar nada, nem mesmo dizer algo. Quero apenas sentir o que ele poderá ter para me oferecer, e depois descobrir o que tem que me faça enaltecer. Sinto as mãos dele encostadas aos meus seios não faz pressão nem mesmo os segura, apenas desliza as mãos de modo a que possa se aperceber dos seus contornos. Por trás de mim sinto a cara dele a aproximar-se, beija-me o declive devagar. Sinto a energia que liberta a envolver-me. Ela diz-me, eu amo-te, mas só pode ser assim... E deixa escorrer os lábios lentamente pelas minhas costas, até chegar à cintura, beija-me em tom terno e inigualavelmente feroz as nádegas enrijecidas e a sua pele arrepiada do frio. Sinto a energia que deixa libertar, ela envolve-me num mar de fantasia que se conjuga à sinuosa realidade. Senta-me sobre o seu colo. Está vestido, no entanto sinto as pulsações das mãos sobre a minha pele nua. É uma sensação completamente inebriante e reconfortante. É o desejo, o amar que se expressam pelo lado carnal, o desejo alcançado sobre o ser amado, a necessidade incontrolável que nos leva a perder os sentidos, tolhidos do medo do abandono e ao mesmo tempo nos eleva a prados de ondulatórios trapézios cor de mel, que nos fazem despertar para os sentidos mais primitivos, para o toque da pele meio suada que desliza carne com carne. Agora levanta-se comigo sentada em cima dele, põem-me no chão afasta-me o cabelo, beija-me o pescoço ternamente, e vai-se embora. No fim era tanta a vontade no seu coração, que preferiu não provar, com medo de nunca mais querer deixar para trás o seu reflexo.



16 de abril de 2004

LOL

Mascara
Invisível
Vem visitar
Quem por ti chama.
Clamo
Sossego
E obtenho
Enredo.
Historias
Antologias
De sexo
Sem amor
Sem pudor
Sem fulgor.
Saudade
Fogo
Ardente
Que me sai
Por entre
O sexo
A vagina
Liberta
Jamais
Será
Coberta.

14 de abril de 2004

O desejo supremo eleva-se, penetra-me, invade-me, doma-me e cega-me…
Os lábios incham, ao sabor das palavras não ditas. Lábios inflamados pedem beijos tortuosos inundados de imagens efervescentes que se encaixam perfeitamente na moldura do gemer.
Lábios de veludo, lábios rubros despontam ao ritmo único de dois corpos enlaçados.
A paixão exalta-se e o desejo supremo nasce. Rompe e espreguiça-se pelo infinito. Terra e céu unem-se e deixa de existir o original.
A ânsia desce por entre as ancas, penetra a terra e dirige-se ao ventre, liberta-se em espasmos crepitantes, retornando à originalidade em forma de doçura e compreensão.
Plumas de mil cores passeiam-se pela carne de arrepiada. Essa deixa-se elevar de volta no ontem. Êxtase. Completar, misturar os sabores que os gradientes teceram ao luar. Plumas de toque singelo arrepiam a pele. Provocam gemidos contorcidos. Ondas vultuosas passeiam-se pelo corpo em segredo sucumbem dizendo não ao adeus pois o fervor da carne sobe pelo o corpo como um raio fulminante inundando os cofres do doce sabor do luar que a alma produz ao se aproximar.

13 de abril de 2004

Corpos cavalgam um sobre o outro, apertam-se, apalpam-se, mordem-se, beliscam-se, gemem, deslizam sobre o suor de ambos os bustos... e em infinitos espasmos diluem-se no êxtase que os amordaça.

11 de abril de 2004

Beija-me, minha alma, doce espelho e guia,
beija-me, acaba, dá-me este contento,
e cada beijo teu engendre um cento,
sem que cesse jamais esta porfia.
Beija-me cem mil vezes cada dia,
pra que, chocando alento com alento,
saiam deste int´rior contentamento
doce suavidade e harmonia.
Ai, boca, venturoso o que te toca!
Ai, lábios, ditoso é o que vos beija!
Acaba, vida, dá-me este contento,
dá-me já tal gosto com tua boca.
Beija-me, vida: tudo em mim lateja.
Aperta, morde, chupa, mas com tento.

"Jardim de Poesias Eróticas do Siglo de Oro", Assírio & Alvim

8 de abril de 2004

IL BACIO

O Beijo! malva-rosa em jardim de carícias!
Vivo acompanhamento no piano dos dentes
Dos refrãos que Amor canta nas almas ardentes
Com a sua voz de arcanjo em lânguidas delícias!

Divino e gracioso Beijo, tão sonoro!
Volúpia singular, àlcool inenarrável!
O homem, debruçado na taça adorável,
Deleita-se em venturas que nunca se esgotam.

Como o vinho do Reno e a música, embalas
E consolas a mágoa, que expira em conjunto
Com os lábios amuados na prega purpúrea...
Que um maior, Goethe ou Will, te erga um verso clássico.

Quanto a mim, trovador franzino de Paris.
Só te ofereço um bouquet de estrofes infantis:
Sê benevolo e desce aos lábios insubmissos
De Uma que eu bem conheço, Beijo, e neles ri.

Paul Verlaine, Poemas Saturnianos e outros, Assírio & Alvim

4 de abril de 2004

VELUDO

Sobre um corpo de gatas duas mãos deslizam, tocam, apalpam, contornam as coxas e em exímio o pêndulo penetra o convés do barco. Um gemido fervoroso sem pudor perde-se no ar. O pêndulo sai, a gruta não está quente o suficiente, e o imperador impregna com a sua a mão afável um estalo sobre as nádegas da imperatriz e em eco de deleite produz-se líquido exótico na vulva assanhada. As coxas estremecem ao sabor do deleite inspirado pelo o boreal toque inesperado. O pêndulo oscila na sua direcção a alta velocidade penetrando a bruma que oculta o desejo supremo. Água nasce igualmente na boca dos dois amantes. Movimentos vorazes unem-se a sons indivisíveis. Sentindo a proximidade do júbilo de ambos, ele retira o pêndulo dizendo para que ela se deixe estar de quatro, sem se mexer. Ela não consegue falar a libido controla-a, apenas geme de ânsia pelo o que ficou por completar. Ela suspira, retira a mão do chão passa-a pelo mamilo e aperta-o, de seguida deixa a mão deslizar do peito até ao umbigo e do umbigo até à vagina, olha para o lado e vê o de pernas abertas a esfregar a protuberância. Ela sem conseguir falar, sorri-lhe e deixa um dedo escorregar por entre as bordas do barco entre as suas coxas toca no barqueiro hirto e desfalece em espasmos luxuriantes.
De gatas desliza até ao homem sentado inundando-o de desejo. Põem-se de cócoras à sua frente e que nem uma gata lambe-lhe o escroto com a ponta da língua içada, depois com a sua delicada mão segura-o, olha-o, larga-o e leva a mão até à vulva, onde recolhe o néctar que lhe abunda, espalha-o no pêndulo que se torna em aço, deita novamente a mão à violácea penetra-a extraindo mais néctar. Levanta-se e esfrega-lhe a mão na cara em tom de provocação. Inclina-se dá-lhe uma dentada no pescoço e com a ponta dos dedos segura-lhe o mamilo esquerdo puxa-o, troce-o, volta a pô-lo no lugar apertando-o até ele gritar ao som do prazer diluído com a dor. Ele imediatamente agarra-lhe as nádegas e espreme-as contra as mãos, explorando o botãozinho róseo com a ponta do dedo indicador da mão direita. Com ele penetra o convés do barco sem pedir autorização ao barqueiro e vai buscar guarnição para a viagem. Volta ao botãozinho místico, munido de mais suco, para brincar. Faz apenas pressão ao de leve para descontrair os músculos, retira o dedo da entrada do palácio, empurra-a para baixo para que ela se sente à medida que lhe dá beijos e dentadas nos seios e barriga. Ela quase a tocar com os joelhos no chão engole o imperador num só gole e com ele por entre os lábios deixa a língua vibrar que nem uma cobra que afaga a sua vítima. Ele comovido respira fundo passa-lhe a mão pelo pescoço e repentinamente abre os dedos enfia-os rumo à nuca e com a mão firme agarra-lhe os cabelos ondulados puxa-lhe pela cabeça para que ela retire os lábios e língua. Ela ajoelha-se e em suplício lambe-lhe as bolsas, afasta-se, olha para ele enquanto empurra os mamilos para dentro em símbolos da necessidade de apagar o fogo que se instalou no barco. Ele levanta-se agarra-a por um braço, deita-a em cima da cama de barriga para baixo e com os joelhos no chão, ajoelha-se por trás dela põem-lhe as mãos nos ombros e fá-las descer à medida que deixa o corpo deslizar até encontrar o dela, diz-lhe ao ouvido, estas a provocar-me? E encosta a ponta do pêndulo à flor rósea como se o pêndulo se tivesse transformado numa abelha que rodeia a flor, ele anda de flor em flor a sugar o orvalho matinal, e o orvalho espalha-se pelas pétalas. Mas o pêndulo gosta tanto de flores que fica morto de ânsia por saber como seria o toque, qual seria a sensação que o botãozinho por desflorar poderia produzir? E na ânsia desmedida pela curiosidade, rompe rumo ao botãozinho, e esse engole a ponta do pêndulo e as coxas dela transformam-se numa égua. Ele dá-lhe uma dentada no ombro perto do pescoço, beija-lhe as costas há medida que lhe dá dentadas até chegar aos montes das colinas de veludo, com as duas mãos segura-lhe as colinas gémeas do vale de veludo, beija-as, morde-as, aperta-as, venera-as e penetra-as com a língua ávida rumo ao vale de todos os segredos, no meio encontra-se o botãozinho róseo, e em lambidelas compassadas, tremulas e vigorosas, delicia-se e ela geme, o prazer tornara-se em suplicio que tem de ser satisfeito e expelido. Os corpos dos dois amantes vibram, e ele torna-se em céu, nuvens e chuva, regando-lhe a terra para que o botãozinho possa eclodir. Após a chuva deixar a terra húmida o pêndulo salta de curiosidade, no corpo instala-se o desejo que tem de ser satisfeito custe o que custar. Ele também contém sementes que anseiam se espalhar. E em murmúrios não traduzíveis ajeita-se e deixa o pêndulo furar o botãozinho, devagar, sem pressa alguma, todo o momento é sereno, afável e único. O pêndulo escorrega, rompe a terra, o botãozinho e descobre a planície estreita de veludo que o delícia, o botãozinho torna-se em botão, e as semente são espalhadas no vale de veludo que ondula ao sabor do tremor de terra que o pêndulo provocou. E na calada da noite os amantes colados descobrem que sempre pertenceram um ao outro.

O travo do toque esperneia por todos os recantos da carne, e em ondas prismáticas a pele eriçasse, o ventre atiçasse sinuosamente ao som da sinfonia da pressão sanguínea. Num ardente clamor a alma expande-se em macias fatias místicas de libidos que se entrelaçam em perpetua infâmia arredia.