17 de dezembro de 2006

2 de dezembro de 2006

O que o amanhã teceu:

Ondas de volúpia desaguam em cornucópias no recanto do coração escondido.
Tecem o diadema do que irá ocorrer.
A essência que transborda ditirambos idílicos.
Inunda-nos fulgurantemente, à medida que as plumas das penas da criação.
Traçam imagens pitorescas sobre a pele que se arrepia sobre o fogo ardente e inconstante da alma que se sobrepõem à vontade da moral. Revemo-nos no infinito.
Vemos que afinal tudo já fora tecido.
Tapeçaria inigualável perdida no banco da memória altiva.

26 de novembro de 2006


11 de novembro de 2006

A prostituta sagrada dança envolta de plumas plasmáticas de energias imensuráveis. Mil cores são projectadas sobre o breu das almas sedentas de paixão pela complementaridade. A seriedade da norma desvanece ao som dos ardentes gemidos que a carne produz ao se enlaçar. Gancho que se insere no travessão caloroso da bainha húmida, doce, quente e escorregadia. O corpo não aguenta mais a emoção do toque da carne envolta de beijos rubros de olhares translúcidos. Em carrossel tornamo-nos, cornucópias aladas de sabores afáveis. Lentamente tentamos penetrar a alma, ficamos na expectativa que ela se una. Gemidos, cânticos divinos que aceleram a intensidade do momento. A doce dor isentasse de fundamento, e torna-se em murmúrio incandescente. Abraçados até ao infinito rodopiam compenetrados pelo ritmo do orgasmo dionisíaco que lhes eleva o corpo à alma. O espírito desce sobre o corpo, e tudo se dilui em uma palete de cores em espiral infinita de deleito pelo usual. Passam a ser um só e tudo se torna dual ao seu redor, e a prostituta sagrada desce à terra por uma escada de folhas fálicas vindas desde o início do nada, ela traz consigo o suspiro divino que enleia as almas em deleite, semeando o amor fantasiado por gemidos provindos da tentativa de capturar, aquele único momento em que tudo se torna inigualavelmente inesquecível.

5 de novembro de 2006

A cadeira de veludo vermelha

Há medida que caminhavam no corredor um atrás do outro, ele subtilmente agarra-a pela cintura, encostando-se fervorosamente, enquanto lhe afasta o cabelo do ouvido murmurando: o que te fez demorar? Num ângulo sinuoso os olhares tocam-se e por entre os lábios dela sai um sorriso frágil como resposta. As mãos, que nesse momento seguravam as ancas, deslizam de volta para os bolsos. Ambos ficam parados, ele espera impacientemente que ela dê o primeiro passo, e ela embirrentamente permanece parada. O silêncio cai e com ele soa o som da chuva que cai em Agosto, gota a gota repentinamente a chuva desfaz-se contra o chão demarcando a gradação do desejo. Ao som da chuva uma das mãos é novamente retirada do bolso, trémula e inquieta toca na nuca e devagar prossegue rumo à mulher, a instantes de lhe tocar no ombro ela avança, ele fica para trás, quieto, até ela desvanecer pela porta do quarto, assim ele avança repentinamente até a encontrar junto da janela do quarto a observar a chuva que agravava segundo a segundo a sua sinfonia. Passo a passo dirige-se a ela, agarra-a pelas ancas, morde-a junto do ombro, vira-a, olha-a nos olhos, beija-lhe um dos lábios mordendo-o ao mesmo tempo que lhe segura as duas mãos, inesperadamente puxa-a encosta-a sobre o cadeira de veludo vermelha no meio do quarto, encosta-se sobre o corpo vestido, de modo a que não consiga fugir. De seguida leva as mãos à cintura e retira o cinto. Enrola-o numa mão enquanto com a outra desaperta-lhe as calças deixando-a nua pela cintura, afasta-se olha-a, e de seguida bate-lhe no rabo com o cinto até ficar vermelho rosado, larga o cinto, deixa-se cair de joelhos no chão, encosta-se, e ambas as faces encontram-se e ele pergunta novamente: porque demoraste? Ela esboça novamente um sorriso há medida que ele comprime o corpo contra o dela. Queria que as roupas se desfizessem, para mergulhar dentro dela, para se enlear em teias orgânicas de prazer, desejo impossível de desvanecer. Deixa então o corpo comprimido por cima do dela, retira as mãos dos ombros e leva-as à cintura, tira as calças apressadamente, apoia-se novamente nos ombros dela e diz-lhe ao ouvido: porque demoraste? Ao mesmo tempo que a penetra e desliza por ela em movimentos cíclicos. A chuva cai lá fora, uma intempérie despontou da ânsia de possuir. Ele pergunta novamente: porque demoraste? Morde-lhe o lóbulo da orelha à medida que os movimentos de ambos aumentam de intensidade como a chama de uma vela se ergue ao se incendiar o pavio, perto do colapso de vontades ambos colidem um sobre o outro, ao caírem no chão o homem segreda-lhe: porque demoraste, não voltes a sair de junto de mim. Ela com o coração a pulsar volta a face e sorri, no chão em posição fetal abraçados, entrelaçados em carne, ela vira novamente a face e ele retribui-lhe com um beijo, desfalecem num único espasmo incandescente… enleados pela certeza de um sentimento surreal concreto.

22 de outubro de 2006



Anda…
Segue-me
Persegue-me
Envolve-me
Com um lenço de seda
Projectado pela retina inflamada do desejo
Anda…
Olha para o que não tocas
Anda…
Passo a passo a meu lado
Contorce-te ao som dos meus gemidos
Numa noite gélida, sobre o céu azul-escuro
Anda…
Ama-me
Anda…
Olha-me nos olhos
Anda…
Beija-me os lábios pintados de rubro inflamado
Anda…
Amassa-me em cornucópias de abraços apertados
Anda…
Cola-me ao teu corpo suado
Anda…
Tira-me o folgo
Anda…
Num labirinto feito de seda,
Deslizar, trocar o olhar, que nos ilude.
Num labirinto feito de seda,
Dispo-me
Esfrego-me
Confundindo-te com a seda.
Alimento a alma sequiosa do limiar que nos separa
A retina perdida,
Numa conjunção de traços dispersos sobre a pele desfeita
Num labirinto feito de seda,
Danço para ti
Num labirinto feito de seda,
Vergo-me a ti
Num labirinto feito de seda,
A eternidade do meu amor
Rodopia em círculos invisíveis
Até te alcançar.
Anda…
Dá-me a mão
Fecha os olhos
Anda…
O labirinto feito de seda chama por nós
Anda…
Dá-me os lábios para saborear
As mãos para que elas toquem no fundo da minha alma
No fundo do poço…
Aquele poço em que te queres perder
Ele não tem fim
É um cair eterno dentro de mim
Anda…
O labirinto não tem fim, nem principio
Ele é feito dos nossos corpos nus…
O labirinto chama por nós
Anda…

16 de setembro de 2006

Amanhecer na tua retina
Enroscada em lamurias vãs
O calor do teu corpo dormente
Chama o sexo adormecido
Fugaz toque acetinado
Suspiro abandonado
Aglutinado na minha retina…

O céu como palco,
O cometa desliza
Pelo verde que outra hora fora azul
Como uma estrela apressada,
Vinda de outro tempo
De outra dimensão
Com regras diferentes
Será a sua colisão
O palco onde se dá o
Choque de realidades?

Tecer quarteirões com os pés
Descrever o que se julga sentir
Fragilidade e muitos dades
Com algo anexado
Remetem circulares
De pensamentos endiabrados
Carrosséis de papoilas escarlates
Combatem nuvens espartanas
Pela posse da terra do nunca
Boneco de neve
Parido por uma avalanche
De estrelas cadentes…

30 de agosto de 2006


... Posted by Picasa

29 de agosto de 2006

Imaginem um homem, caustico, por quem podíamos acertar o passo. A nossa personagem fazia tudo à mesma hora. Tudo tinha um compasso ténue, que delimitava, uma linha rígida de ver a vida. O derradeiro objectivo seria, alcançar a perfeição, anulando qualquer passo incerto. Fazer o correcto, mesmo que isso lhe cinja a liberdade de viver, a liberdade de dar um passo em falso. Tudo para ele tinha a sua mecânica. Uma mecânica atroz. Uma mecânica demasiado lenta, sinuosa. Ás 09H00 ele acordava. Ás 09h20 estava vestido. Ás 10h00 acabava de tomar o pequeno-almoço, e ia trabalhar. Deslizava sempre ao mesmo compasso, com as suas veste formais reflectindo todo o brilho arrogante do seu suposto caminho recto. No caminho para o trabalho. No final da rua parava no quiosque. Olhava para a casa do outro lado da rua. Dava uma vista de olhos pelos títulos dos jornais, e seguia caminho. Com ar de quem medita profundamente sobre a problemática de estar vivo. Trabalhava das 10h30 ás 17:30, numa biblioteca. Aproveitava para ler na hora de almoço. Apesar todo este cárcere auto-imposto, era um homem simpático, jovial. Que tinha os mesmos pensamentos que cada um de nós, sobre o que lhe rodeia. A diferença entre ele e o resto dos homens que já vi, era a de dele determinadamente não fazer determinadas coisas. Coisas banais. Porque julgava que ao interagir de certa maneira isso implicaria que toda ordem no mundo se alterasse. Como se ele fosse um ponteiro do relógio da eternidade que jamais pode deixar de funcionar daquele modo, senão tudo cessa de existir. Até que num belo dia de sol a nossa enfadonha personagem, ao chegar ao trabalho, depara-se com uma bela jovem, de longos cabelos ruivos, com um vestido preto de alcinhas fininhas. Ela estava do outro lado do balcão de atendimento da biblioteca, a falar com um outro seu colega. Que de imediato lhe apresenta a nova colega. – Esta é a Gabriela. E nisso a nossa personagem sente um arrepio pelas costas seguido de um rosar da face. O João fica perplexo. Há mais de 5 anos que trabalhava com o Pedro. Ele nunca vira uma reacção dele, perante fosse o que fosse. Especialmente na presença de uma mulher. Mas o Pedro depressa se comediu, e deu as boas vindas a nova colega. Passaram dias, semana, meses, e o nosso Pedro, parecia lentamente alterado. Sempre que entrava a porta da biblioteca, sorria de cabeça baixo. Passava os dias na tranquilidade. Não sabia ele o motivo dessa tranquilidade, a paixão inconsciente que ele sentia. Até que o começou a sufocar lentamente, quando dava por si, os pensamentos tomavam controle do corpo, e o corpo tomava-lhe conta do pensamento. Todo o pensamento se resumia a uma única coisa, um único objecto, a Gabriela. A doce Gabriela. Com os seus longos cabelos ruivos. O decote dela, que o deixava a salivar. O cheiro dela. Tudo nela, era uma desculpa, para que o nosso anjo fosse arrastado num turbilhão de pensamentos atrozes. E os dias e as semanas e os meses passam, e Gabriela impacientemente espera, por um sinal. Ela admirava a timidez dele, deixava-a a fervilhar. E a nossa personagem nada fazia. Pode dizer-se, o cenário, era dantesco. Começará a ficar com o ar inundado de desejo não explícito. Um desejo silencioso. À noite Pedro, já não aguentava a tensão. E por entre a luz fosca da casa de banho, tentava desesperadamente aliviar a tensão. Masturbava-se sem pensar em nada, tentava a todo o custo redimir qualquer pensamento direccionado a alguém, a um objecto sexual. O corpo/objecto, como forma do egoísmo da emoção humana. Isso revoltava-o. No entanto ele acabará de cair como todos os homens. O nosso anjo caíra e nem dera por isso. Podemos vê-lo ao fundo do corredor mal iluminado, a demência da negação, dos impulsos básicos. Pedro sôfrego na tentativa de expelir todo o desejo. O pensamento dele era uma guerra bélica, entre as imagens que lhe surgiam, e o quadro edílico de um ecrã branco sem imagens. E passam dias, semanas, meses. E o rito de expulsar e controlar o desejo aumentará gradativamente. Lentamente. Cada vez que Pedro chegava a casa, e se dirigia a casa de banho, meio atordoado com o pensamento inundado de imagens retalhadas do corpo de Gabriela. Dirigia-se a casa de banho, com uma expressão atordoada no rosto. Despia-se, rapidamente e deslizava para a banheira, e urinava. Nos últimos meses só conseguia urinar na banheira. O seu membro assim o ditava. Permanecia imponente como um imperador, que já mais abdica da sua posição. De seguida masturbava-se arduamente. O desejo governava-o. O medo igualmente permanecia intacto. O medo. O receio do inesperado. E dias passam. E Gabriela, também deixa de conseguir suster o desejo crescente. Algo nela lhe dizia, mergulha, mergulha por ele dentro. Como se sentisse o mesmo. Mas não sabia como actuar. Por ele mostrar uma posição demasiado rígida e incerta. Até que certo dia ela resolve ter uma atitude. Antes de ir trabalhar espera por Pedro no quiosque. Este ao vê-la, atravessa a estrada repentinamente. Os ombros de Gabriela esmorecem. E recompõem-se rapidamente e corre na direcção dele. Interpelando-o. – Porque foges? Não sei do que falas. Sabes sim! Porque foges? Porque sim. E os ombros frágeis de Gabriela cambaleiam, sem saber o que fazer. Mas há medida que o dia foi passando. Os demónios de Pedro começaram a afastar-se. E ela sentiu que ele com o passar dos dias se foi tornando num homem, consciente do desejo. Do “pecado” que o homem faz arte, em nome da sua existência. E belo dia Pedro. Ao passar por Gabriela por entre as estantes da biblioteca encosta-se por trás dela. E sussurra-lhe ao ouvido. Hoje jantas comigo. Ela estremece. Virando-se para ele. Olha o nos olhos. E rouba-lhe um beijo.

2 de agosto de 2006

I Wanna Get In Your Pants
The Cramps



May I have this dance?
Can I get in your pants?
May I squeeze on them cshoes? Sing you maybe some blues?
I wanna wear your rain coat. Dance around the house.
Your leopard skin and chain tote.
Has got me so aroused.
Baby you got the clothes.
You got romance.
You got the moves.
So, while I got the chance...
I wanna get in your pants? To just unzip the back.
Baby, that's where it's at. Can I try on that hat?
Give you my baseball bat.
Oh baby it's uncanny.
Bout them there Sunday panties.
Hey, today ain't Sunday. Get 'em off o' your fanny. Oh, under your underpants. You got a wonderful ass.
It's in the back o' my mind. But, meanwhile, back at the ranch.
I wanna get in your pants. You know I'm in a band.
And I can do handstands.
I got this burning desire. To don that darling attire.
How that elastic snaps. Against my kneecaps.
I wanna wiggle into.
Your powdered rubber skin...ooh.
You got the clothes.
You got romance.
You got the boots.
So, I just gotta ask. Can I get in your pants?

21 de junho de 2006


O LIVRINHO DO SEXUS NO NEXUS!!! Posted by Picasa

4 de junho de 2006

Eu e tu, nós. Uma cama. Silencio.
O corpo como lençol de seda, colado, amarfanhado.
Tingido de suor.
Um gemido.
Um suspiro.
Uma gota de suor.
O vento que entra pela janela.
O adiar do inevitável.

Uma cama, duas pessoas.
O cheiro do desejo no ar.
Uma cama, duas pessoas.
O silencio do entardecer do coito.
Uma cama, duas pessoas.
Enroladas, amordaçadas.
Uma cama, duas pessoas…
A espera da infinidade do movimento.
Uma cama, eu e tu, nós.

Isto não é assim, aquilo é assado, e etc. é frito.
Isto e aquilo, não são como são.
São como alguém diz que é.
Deviam ser como são.
Apenas ser.
Ser, ter. Caiar o mundo com papel de lustro.
Calar. Suprimir. Brindar.
O silencio do amanhecer.
O traço do horizonte em espasmos.
O crepúsculo, o silencio. O silencio.

16 de maio de 2006


... Posted by Picasa

19 de abril de 2006

"(...) Ainda um pouco céptico, quis certificar-se e começou a cheirá-la de cima a baixo. E na realidade não havia um único pedacinho do corpo dela que não emitisse uma frangrância subtil.
Que descoberta maravilhosa! Isto era um charme feminino muito especial de que ele nunca até agora ouvira falar. Arrebatado pelo prazer, abraçou-a e apertou-a, acariciando-a tanto com beijos como com nomes afectuosos. Ela começou a rir e interrompeu as carícias dele com uma pergunta maliciosa:
-Já terminaste de me cheirar? Tens a certeza de que não te faltou nada?
-Que eu saiba nao. Ou deveria...
Nuvem perfumada deu uma risadinha e enterrou a cara na almofada.
-Exprimenta.
Ele virou-a de costas e passou a boca e o nariz pelos montes gémeos.
Eureka! - gritou triunfantemente das perfundezas. Subindo para as regiões superiores, beijou-a
-Delicioso, perfeitamente delicioso.
Passado um bocado escorregou outra vez para o submundo, curvando o corpo num arco.
Abriu os portões da casa de prazer dela e introduziu a língua nas salas interiores como vice-embaixador.
-Oh! O que estás a fazer...? Pára! Estás a matar-me!... - gritou ela, estremecendo de riso, e tentando em vão afastá-lo. Mas quanto mais empurrava, mais obstinadamente o zeloso e vice-embaixador trabalhava na sua missão diplomática, a qual levou a cabo tão habilmente que os resultados foram quase iguais aos atingidos pelo experiente e acreditado diplomata.
Por fim, a sua missão foi cumprida e ele foi atenciosamente dispensado. Depois de uma pausa de exaustão silenciosa, ela passou-lhe a mão pelos cabelos. (...)"

Li Yu, " O Tapete Carnal de Orações

... Posted by Picasa

27 de março de 2006


... Posted by Picasa
Quanto de ti, Amor...

Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço
em que de penetrar-te me senti perdido
no ter-te para sempre -
Quanto de ter-te me possui em tudo
o que eu deseje ou veja não pensando em ti
no abraço a que me entrego -
Quanto de entrega é como um rosto aberto,
sem olhos e sem boca, só expressão dorida
de quem é como a morte -
Quanto de morte recebi de ti,
na pura perda de possuir-te em vão
de amor que nos traiu -
Quanta traição existe em possuir-se a gente
sem conhecer que o corpo não conhece
mais que o sentir-se noutro -
Quanto sentir-te e me sentires não foi
senão o encontro eterno que nenhuma imagem
jamais separará -
Quanto de separados viveremos noutros
esse momento que nos mata para
quem não nos seja e só -
Quanto de solidão é este estar-se em tudo
como na auséncia indestrutível que
nos faz ser um no outro -
Quanto de ser-se ou se não ser o outro
é para sempre a única certeza
que nos confina em vida -
Quanto de vida consumimos pura
no horror e na miséria de, possuindo, sermos
a terra que outros pisam -
Oh meu amor, de ti, por ti, e para ti,
recebo gratamente como se recebe
não a morte ou a vida, mas a descoberta
de nada haver onde um de nós não esteja.



Jorge de Sena
in Visão Perpétua
Agosto 1967
Vénus

I


À flor da vaga, o seu cabelo verde,
Que o torvelinho enreda e desenreda...
O cheiro a carne que nos embebeda!
Em que desvios a razão se perde!

Pútrido o ventre, azul e aglutinoso,
Que a onda, crassa, num balanço alaga,
E reflui (um olfacto que embriaga)
Que em um sorvo, murmura de gozo.

O seu esboço, na marinha turva...
De pé flutua, levemente curva;
Ficam-lhe os pés atrás, como voando...

E as ondas lutam, como feras mugem,
A lia em que se desfazem disputando,
E arrastando-a na areia, co'a salsugem.



Camilo Pessanha
Clepsidra
e outros poemas
Colecção Poesia
Edições Ática
1973

1 de março de 2006


... Posted by Picasa

27 de janeiro de 2006


... Posted by Picasa