17 de janeiro de 2005

EPITHALAMIUM

[...]

III

No leito aguarda que o desejo cresça
mais rico ou mais ousado
para afastar o medo e abatida
levantar-se como se hoje fosse um dia qualquer.
Que será uma noiva com um homem na cama
insistem as partes em que ela é feminina
enviando mensagens que de serem sonhadas
o pudor impedindo em imagens converte
de uma informe neblina.
Abre os olhos e o tecto vê em cima vedar
a aconchegada alcova
e pensa até seus olhos novamente fechar
que esta noite outro tecto outra casa verá
noutra cama deitada estranha se achará
naquela posição que apenas entrevê.
Os olhos fecha então
para não verem o quarto
que nunca mais verão.

[...]

IV

Hoje ao declinar do dia
entre ela e o tecto
o peso de um homem vergará.
Vede! de imaginá-lo as pernas cinge
na mão pensando que as apartará.
Essa entrada em sua carne teme
esse consentimento que fará
o macio começar a ser rude na dor.
Se vós alegres raios
sois habitados por duendes ou gnomos
que com o dia voluptuosamente brincam
segredai-lhe se o temor de sangrar a retrai
que a espaçosa câmara do amor
tem o seu pórtico nesse exíguo caminho.

[...]

Fernando Pessoa

Sem comentários: