21 de junho de 2004

"Um refeição destinada a culminar numa orgia sexual tem tendência para seguir directamente para as partes que precisam de alimento, como se fosse para lá dirigida pelo agulheirozinho que regula o tráfico no sistema vegestativo. Começámos por ostras e caviar que se seguiu a uma deliciosa sopa de rabo de boi, bife à café, puré de batatam ervilhas à francesa, queijo e fatias de pêssego com natas, tudo acompanhado por um autêntico Pommard, que a Marjorie desencantara. Com o café e os licores saboreámos uma segunda sobremesa: um sorvete francês a nadar em Benedictine e uísque. Entre os pratos, a Marjorie brincava com a picha do Ulric. Entretanto os quimonos tinham-se aberto e os seios estavam expostos, assim como os umbigos que subiam e desciam suavemente. Um dos mamilos da Marjorie mergulhou, sem ela dar por isso, nas natas batidas, o que me deu ensejo de lho chupar um momento ou dois. Ulric tentou equilibrar um pires na gaita, mas não conseguiu. Decorria tudo alegremente.
Enquanto mordiscámos as tartes, os bolinhos de creme, os napoleões e sei lá que mais as mulheres tinham arranjado, começámos a conversar naturalmente acerca dos velhos tempos. Elas haviam mudado de lugar e estavam aninhadas no nosso colo. Tinham sido necessárias muitas contorções e gargalhadinhas. De vez em quando, um de nós tinha um orgasmo, calava-se um bocado e depois refazia-se com a ajuda do sorvete mergulhado em Benedictine e uísque.
A certa altura mudámos da mesa para os divãs e, entre breves passagens pelo o sono, continuámos a conversa acerca dos assuntos mais diversos. Era uma conversa simples e natural e nenhum de nós se sentia embaraçado se, no meio de uma frase, adormecida. As luzes estavam veladas, entrava uma brisa tépida e fragante pelas janelas abertas e estávamos todos tão completamente saciados que não tinha a mínima importância o que se dizia ou que se perguntava."

Henry Miller, Plexus.

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