19 de maio de 2004

“ Por entre sedas chinesas”

Por entre sedas chinesas, corpos nus roçam-se. Avivam memórias desde o seu princípio. Almas que se unem… Corpos que se diluem ao sabor magnético dos uivos embebidos em pura luxúria. Sobre a parede do lado esquerdo da cama rastejante, aparecem imagens pitorescas, reflectem os vultos sagazes e vorazes dos dois amantes. São ágeis, apressados, quentes como a bainha da mulher e o falo do homem. Ambos se metamorfosearam, a mulher em uma flor rubra, viscosa de doce sabor, o homem é o orvalho matinal que por entre as pétalas desliza ao sabor dos movimentos contorcidos da flor ao vento da volúpia. Por entre sedas chinesas, os murmúrios desbotam, a sua vibração enleai-se e os amantes tornam-se num só, a passo compassado criam complementaridade, fazem a seda azul escura como o céu iluminado pelo luar brilhar. Ondas de deleite são expiradas e inspiradas pelos amantes. Os vultos na parede, a passo compassado mas agitado, mostram como eles se diluem, partilham sucos vestais, gemem cânticos descompassados, beliscam-se por iras passadas, aninham-se na tentativa de se dominarem. Num movimento brusco o homem segura rispidamente a mulher pelos pulsos. Como que por magia pega numa ponta de seda e atira-a pelo o ar, ficam ambos nus estáticos a olhar um para o outro. Do nada surge uma fita de seda negra como o vácuo. Os olhos dele brilham ao se chegar há frente para atar os pulsos da mulher. Ele olha-a nos olhos, e subitamente por entre as frestas da sua íris, ela lê-lhe a alma. Vê o que se esconde por entre os filamentos verdes jade dos seus olhos. Vê o desejo acumulado que ele possui por ela, e deixa-se dominar como se fosse um animal selvagem que sabe que não tem para onde fugir mas nunca cessa a sua luta. Ele veemente ata-a com força, como se quisesse deixar marcada a necessidade de a possuir, de a ter como pertença única. Agora puxa-a pelas mãos. De barriga para baixo ela escorrega sobre a seda, os mamilos roçam e enriçam-se à medida que ela se dá por vencida. Já no ermo da cama, ele endireita-a e senta-a no rebordo mesmo entre o colchão e o chão. Larga-a e diz-lhe para se levantar e que tente fugir. Ela foge até ao fundo do quarto em vão... Ele levanta-se e persegue-a, agarra-lhe o braço dizendo-lhe que se sente na cadeira e eleve os braços na direcção da cabeça e parede. Nisso prende uma nesga da fita que lhe sustinha os pulsos conectados. Nua, desamparada ela permanece imóvel, enquanto os olhos dele brilham, o verde dos olhos floresce ao passar rente por entre a face e os cabelos da mulher. Rouba-lhe a imagem dele ao vendá-la e toldar os seus doces olhos cor de mel com um lenço de seda. Depois de o apertar por detrás da cabeça, ele endireita-o de modo a que a única borboleta estampada no lenço ficasse mesmo no centro da fronte. Seguidamente baixa-se, põem-se de joelhos, agarra-lhe suavemente os tornozelos, a pele desliza, ele imite um suave mas contido gemido, e num repente de devaneio iça-lhe as pernas pondo-lhe a dobra dos joelhos sobre os braços da cadeira. Ela fica escancarada como uma flor que desbota sob a orbe orgânica do desejo, sob a visão atenciosa emitida de forma estrondosa, ele conseguiu domá-la, pensa ele enquanto se levanta do chão. Dirige-se à cama, senta-se e observa-a por ligeiros momentos. Ao longe sente a concupiscência a tomar conta do corpo, com ela também o mar do devaneio se expande dentro da sua vontade. Finalmente sente que tem uma boneca à sua disposição. Pensa – Posso fazer o que quiser. Sei exactamente o que pretendo. Mas neste impecável instante sentiu um abalo, não de consciência, mas de um sentimento estranho como que uma recordação adormecida. Não fazendo esperar a donzela, ligeiramente embriagado pela euforia, dirige-se repentinamente, ajoelha-se perante os frutos do amor carnal. Passa-lhe a mão pela vagina como quem passa as mãos a dedilhar pelas cordas de uma guitarra. Observa então minuciosamente tanto a flor como o botão, senta-se no chão tudo nu, fica embevecido a examiná-la. Está imóvel. Não se mexe, parece uma boneca. Ele quer brincar com ela, pensa para com ele. A sua mente vibra, o som ecoa, o som do desejo, som imperceptível que o faz querer, que o faz render. Afasta-se um pouco mais, senta-se para a ver por inteiro. Ela mexe a cabeça de um lado para o outro, não consegue ver, está vendada! Proibida de lhe tocar, de olhar nos seus olhos e ver que pertencem um ao outro. Um elo de energia une-os, são o mesmo. Pensa ele sem no fundo querer crer. O amor é rendição. É ele que me prende e me deixa ficar enleado na vida. Pensa o homem obstinadamente com as mãos sobre os olhos e cabeça. Não sabia o que fazer. Ela, para si mesma murmura suavemente: olhos de jade, belos e frios. Serão gelo? Eu sei que após o gelo cintilante se encontra o paraíso e inferno que trazes escondido. Quem te fez gelar? Quem te fez ou o que te fez crer que o amor é uma fraqueza? Eu sei que me desejas. Mas não me podes fazer tua… pois já sou minha. Ele de seguida retira as mãos da racionalização da frente do gelo glaciar verde jade, devido à profundidade do mar das emoções que fervilham no seu interior, de gatas caminha como um felino, dirige-se há presa imóvel, cheira-a, lambe-a, suga-lhe o liquido morno que se liberta da flor, na tentativa desesperada de se tornar nela e ela nele.

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